Nina rodrigues e a garantia da ordem social
Raimundo Nina Rodrigues e a “garantia da ordem social”
MARIZA CORRÊA é pesquisadora do CNPq e da Fapesp junto ao Pagu/Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp e professora na área de Gênero no Doutorado em Ciências Sociais da Unicamp.
N
ina Rodrigues foi alçado à condição de ícone histórico dos estudos so-
bre o negro no Brasil primeiro por seus autoproclamados discípulos, a maioria médicos, também os responsáveis pela publicação póstuma de muitos de seus trabalhos sobre o tema, e depois pelos antropólogos que se dedicaram a pesquisar as religiões afro-brasileiras. Arthur Ramos, especialmente, empenhou-se em “inventar”, como dizia Édison Carneiro, a “Escola Nina Rodrigues”, inventando assim também um lugar para si na linhagem rodriguiana. Como muito já foi dito sobre esse aspecto, e eu mesma devo ter corroborado para sua leitura a partir desse viés, gostaria de lembrar aqui – já que certamente o centenário de sua morte, em 2006, será ocasião de mais celebrações, positivas ou negativas, do seu papel em nosso panteão dos estudiosos das relações raciais – de maneira breve a sua trajetória profissional, contexto no qual seus estudos sobre o tema se desenvolveram. Infelizmente, boa parte dos trabalhos que não se encaixam nesse tema permanece inédita e este texto é assim também uma sugestão para que os interessados nos assuntos tratados por ele naqueles trabalhos os leiam. Para não fugir inteiramente à questão do dossiê da revista, lembro também, rapidamente, que mesmo seus estudos sobre relações raciais, já tão analisados, ainda podem sugerir pistas interessantes a serem perseguidas pelos pesquisadores contemporâneos.
TRAJETÓRIA
Raimundo Nina Rodrigues nasceu no Maranhão, na cidade que hoje tem seu nome, em 1862. Seu pai, coronel Francisco Solano Rodrigues, era dono do Engenho São Roque, que teria passado às mãos de seus escravos devido ao desinteresse de seus sete filhos por ele. Sua mãe, Luiza Rosa Nina Rodrigues, seria descendente de uma