NIETZSCHE E A TRAGÉDIA
A partir da análise da tragédia grega antiga, Nietzsche encontrou os subsídios necessários para realizar sua crítica ao pensamento Socrático/Platônico que predominou na cultura ocidental, formulando de maneira inovadora o conceito de trágico que será desenvolvido ao longo de toda a sua obra, principalmente em sua primeira e terceira fase¹. Segundo Machado (2006, p.202), na primeira obra nietzschiana O nascimento da tragédia, o trágico é pensado como uma dualidade de princípios ontológicos ou metafísicos, permitindo a elaboração de uma “metafísica do artista”. Neste período, percebe-se a influência de Wagner e Shopenhauer que inebriam, entorpecem o pensamento de Nietzsche, fazendo-o acreditar na possibilidade de uma “renovação” da cultura alemã que, sob uma perspectiva trágica, promoveria uma reinterpretação da vida, passando a afirmá-la. Isto se dá porque Nietzsche, nesta primeira fase, vincula arte e vida por meio da relação que ele estabelece entre o apolínio e o dionisíaco como impulsos artísticos da natureza que complementam-se e promovem o surgimento do trágico na tragédia grega, sendo o que mantinha a vitalidade da cultura grega, pois viabilizava a aceitação da instabilidade do fluxo da vida. Como consequência de sua análise, Nietzsche percebe que foi devido à racionalização da tragédia grega, à aceitação do socratismo estético que foi adotada a falsa compreensão de uma realidade estável expressa pela necessidade de inteligibilidade, de domínio, criando assim, a sensação de segurança necessária à manutenção do modelo ocidental de sociedade, por isso, ele critica intensamente as alterações ocorridas na cultura grega. Qual foi a necessidade que levou a cultura apolínea à criação dos deuses homéricos? Foi o medo, a dor, o sofrimento e os temores das atrocidades da existência representados pelos poderes titânicos da natureza. Se o sofrimento é insuportável, ele exige uma forma de proteção através da arte.