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O ANTICRISTO
Friedrich Nietzsche
Tradutor:
Artur Morão
www.lusosofia.net
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Apresentação
Violência e ironia feroz – eis dois rasgos da crítica que Nietzsche fez ao
Cristianismo, ao qual moveu em O Anticristo um dos mais virulentos ataques de toda a história espiritual do Ocidente. E, no entanto, a sua atitude perante o Cristianismo é ambígua: se a hostilidade, a recusa – que, por vezes, chega ao desvario e acusa um ressentimento sem limites
– é o sentimento que sobressai perante a figura e a realização históricas do Cristianismo, sobretudo sob a forma de «Igreja», uma secreta admiração e atracção para as exigências cristãs, ou o ideal cristão, não estão de todo ausentes em Nietzsche e são, por vezes, explicitamente patenteadas na sua obra.
Não surpreende, pois, a possibilidade de várias interpretações teológicas do seu pensamento. Para O. Flake, Nietzsche surge como o ponto mais alto do subjectivismo religioso e moral iniciado por Lutero, e cujo desenlace só podia ser o niilismo que abriu espaço, entre outros, aos ídolos do Estado, da raça e da ciência. Segundo W. WeymannWeyhe, Nietzsche surge positivamente como uma das possíveis expressões da história da consciência cristã – uma posição parcialmente afim e paralela à de Kierkegaard, mas de sinal contrário. E até se afirmou que Nietzsche poderia figurar como iniciador de uma peculiar imitatio
Christi (Ernst Benz)!
Há, porém, que sublinhar o seguinte: a teologia contemporânea não estava porventura preparada para os problemas levantados pelo ataque de Nietzsche contra o Cristianismo, sobretudo pela ideia de «genealogia», que traz consigo uma suspeita radical, e pela tese do «ocaso do Cristianismo» que, de certo modo, é em Nietzsche uma espécie de constatação e de diagnóstico a propósito da cultura moderna, mais do que um golpe da sua crítica. É nesta linha que dois teólogos protestantes interpretam o ateísmo nietzscheano: W. Nigg vê em Nietzsche
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