Nietzsche Artigo
Richard Schacht - Professor Emérito da Universidade de Illinois, Urbana-Champaign, Estados Unidos.
Resumo: Partindo da discussão de algumas versões recentes da relação entre Nietzsche e o naturalismo filosófico e científico, o artigo consiste em uma apresentação daqueles traços do pensamento nietzschiano que mais plausivelmente podem ser tomados como naturalistas. Admitida a rejeição, pelo filósofo, da existência de qualquer realidade mais verdadeira do que a que constitui o mundo da nossa experiência, avança-se no sentido de considerar a emergência das sensibilidades e o desenvolvimento das formas de vida como aspectos centrais do naturalismo de Nietzsche — portanto, reconhecidamente incompatível com qualquer modo de pensamento cientificista.
Palavras-chave: história, naturalismo, ciências da natureza, formas de vida, sensibilidade
Nietzsche parece estar sempre na necessidade de ser resgatado da assimilação a modos de pensamento que estão em desacordo significativo com o seu próprio modo de pensar. Mas o elenco de personagens muda a cada 15 ou 20 anos. Uma vez foi preciso resgatá-lo do alinhamento com o nazismo. Depois da associação com o existencialismo. Em seguida da identificação com o pós-estruturalismo. Recentemente entrou em voga uma nova e problemática assimilação, a algo que é tão distinto dos desenvolvimentos anteriores quanto estes mesmos eram distintos entre si. Para muitos de nós, que tanto nos empenhamos para que Nietzsche fosse levado a sério nos círculos da filosofia analítica como algo mais do que um mero proto-pós-estruturalista, não é pouco irônico que hoje, ao menos em alguns círculos, ele comece a ser levado a sério por ser seriamente mal entendido na direção contrária, e interpretado de forma cientificista sob a bandeira do “naturalismo”.
O problema, tal como o vejo, não é com esta bandeira (que, segundo meu entendimento, é de fato bastante apropriada quando adequadamente compreendida), mas,