neoliberalismo
Por Ignácio Ramonet.
Um cartaz enfeitou, em janeiro de 1998, as paredes de vários aeroportos europeus: numa paródia às imagens da Revolução Cultural chinesa, mostrava uma fila de pessoas, avançando à frente de uma manifestação, rostos radiosos, empunhando estandartes coloridos, agitados pelo vento, e gritando: Capitalistas de todos os países uni-vos!” Para a Forbes, revista dos bilionários norte-americanos, essa foi uma maneira debochada de comemorar 150 anos de lançamento do manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels. Foi também uma maneira de afirmar, sem medo de serem desmentidas (os cartazes não estavam rasgados nem pichados), duas coisas: o comunismo já não mete medo; e o capitalismo passou à ofensiva.
A nova arrogância do capital: Num ano em que se comemoravam não apenas o aniversário desse célebre Manifesto, escrito por dois jovens (Marx tinha trinta anos e Engels, 28), mas também o da revolução de 1848 (que impôs o sufrágio universal masculino e a abolição da escravatura) e o da revolta de maio de 1968, que reflexões poderiam inspirar essa nova arrogância do capital? Ela começou com a queda do muro de Berlim e o desaparecimento da União Soviética, num contexto de estupor político em que se manifestava o desejo de uma ilusão perdida. As súbitas revelações de todas as conseqüências, no Leste europeu, de décadas de estatização perturbaram os espíritos. Um sistema sem liberdade e sem economia de mercado surgiu em seu absurdo trágico, com seu corolário de injustiças. O pensamento socialista de certa forma sucumbiu, assim como o paradigma do progresso enquanto ideologia que pretende um planejamento absoluto do futuro.
A utopia do pensamento único. À esquerda, aparecem quatro novas convicções que poderiam solapar a esperança de transformar radicalmente a sociedade: nenhum país pode se desenvolver seriamente sem uma economia de mercado; a