Nelson
(Nelson Rodrigues)
Uma ausência incômoda e sugestiva na coletânea "Os melhores contos brasileiros do século", Nelson Rodrigues é o tipo de sujeito escritor acostumado com omissões eloqüentes. Maldito, marginal, demoníaco, pornográfico, obsessivo são alguns dos termos que têm sido aplicados a ele e/ou à sua obra ao longo do tempo. Aparentemente "reabilitado" , em especial pela universalidade e atualidade de sua dramaturgia, teve sua obra completa - contos, crônicas, romances e peças - , que passou anos esgotada, reeditada no início da década de noventa. Simultaneamente, foi lançada sua biografia.
O anjo pornográfico - escrita por Ruy Castro, ela mesma um impressionante espelho de sua ficção. Na escritura de Nelson, vida e obra entrelaçam-se de forma inexorável, já que é o Destino cego e irônico que parece comandar os atos humanos. Das mazelas mesquinhas e banais de pessoas comuns, do território pequeno-burguês sem horizontes do subúrbio carioca, dos casos comentados pela vizinhança e das notícias que não merecem a primeira página, Nelson recolhe suas histórias para iluminá-las no palco da literatura, engrandecendo assim a condição humana.
Tema: "A vida como ela é" é o título da coluna escrita por Nelson Rodrigues, publicada seis dias por semana, entre 1951 e 1961, no jornal carioca Última hora e na qual o tema do adultério predominava. O cenário do Rio de Janeiro dos anos 50 serve de pano de fundo para os relatos . Porta de entrada para o universo rodrigueano, o livro pode ser uma excelente experiência inaugural, uma amostra digna do todo da obra de Nelson, de seus temas e de seu estilo personalíssimo. O fato é que ama-se ou odeia-se Nelson Rodrigues. Ele não nos deixa escolhas conciliatórias. Mas para alguém que considerava "toda unanimidade burra", esse radicalismo está de bom tamanho.
Ele, mudo, calcou a brasa do cigarro no cinzeiro. Ela não pôde mais. Ergueu-se, entrou correndo. Abelardo continuou sentado, pelo espaço