Nelson Pereira dos Santos
O cinema inicial de Nelson Pereira dos Santos
Acredito que Nelson Pereira dos Santos tenha sido, dentre os diretores apresentados em aula, um dos mais bem-sucedidos em tentar fazer um cinema com uma cara mais brasileira.
Rio, 40 graus já se mostrou um filme bem diferente das chanchadas e das grandes produções da Vera Cruz que assistimos. O tom realista do filme pareceu dar muito mais certo para a construção de uma identidade nacional, em sintonia com aquilo que o Brasil melhor exportou em relação ao cinema: os documentários e também filmes como Cidade de Deus, que acredito tem muitas semelhanças com o filme de Nelson Pereira dos Santos e é um dos filmes nacionais mais internacionalmente conhecidos da atualidade.
Acho que muito das diferenças entre os filmes de Nelson P. dos Santos e os da Cinédia, da Atlântida ou da Vera Cruz que tínhamos assistido em aula até então se deve ao modo de produção dos filmes. As produtoras citadas seguiam o modelo estado-unidense de cinema feito por grandes empresas. Com o sucesso do Cinema Novo, o modelo independente se mostrou muito mais eficiente no país, movimento já sugerido pelos filmes aqui discutidos.
O fato de o filme enfocar personagens negros e pobres também o coloca contra a corrente dos filmes da época. Mostra uma preocupação incomum com a realidade de personagens pouco retratados no cinema brasileiro e centrais na história e cotidiano do país. Acho que filmes como esse e outros do diretor foram importantíssimos para amenizar a imagem estereotipada que se tinha do Brasil, o país da sensualidade e da impunidade.
A linguagem dos filmes também carrega certa originalidade, mesmo bebendo de fontes estrangeiras. Rio, 40 graus tem a reconhecida influência do neorrealismo italiano, mas acha caminhos próprios ao retratar situações tão brasileiras. Boca de Ouro também constitui um bom exemplo de inteligente usufruto na linguagem dramática: o texto de Nelson Rodrigues utiliza a narrativa