NEGROS DO RIACHO
Nos últimos anos, vem ocorrendo, em todo o Brasil, uma mobilização das comunidades negras rurais, que gradativamente vivenciam processos de retomada de suas identidades quilombolas, o que significa se auto-afirmarem como grupo negro e reivindicarem o pertencimento a um determinado território e o reconhecimento por seus direitos enquanto grupo étnico.
Historicamente, o negro africano chegou à província do Rio Grande no início do século XVII, vindo de Pernambuco, para trabalhar, como escravo, nos engenhos de cana de açúcar de Cunhaú e Ferreiro Torto e, posteriormente, nos engenhos do Vale do Ceará-Mirim, de São José de Mipibu, de Goianinha e de Canguaretama. A ocupação do interior e o seu povoamento ocorreram a partir da metade do século XVII, efetivando-se durante o século seguinte, num processo marcado pelo extermínio do indígena e pelo ingresso da população negra escrava.
A terra é o bem fundamental dessas populações; é de onde se retiram os produtos essenciais para a subsistência do grupo familiar. É, ao mesmo tempo, o espaço de trabalho e o espaço onde se vive. É também o elemento unificador do grupo social, no qual se constrói a história cotidiana de homens e de mulheres, dotando-se de significados a vida e o mundo dessas comunidades negras. A historiografia e a memória dessas gentes documentam que a ocupação da terra por grupos negros configurou-se, principalmente, sob a forma de “posse” de terras devolutas, empreendida por negros escravos fugidos ou alforriados. A vida cotidiana mostra-nos o enfrentamento das dificuldades materiais de existência, as situações de discriminação e preconceitos, além dos procedimentos históricos de usurpação de suas terras. Estudamos duas comunidades negras rurais do Sertão potiguar — os Negros do Riacho e a Comunidade do Jatobá — que, embora possuam trajetos particulares enquanto comunidades remanescentes de quilombos, representam exemplos da