Navio Negreiro - Peça
A temática social abordada por Castro Alves, faz referencia a denuncia dos horrores da escravidão e na luta pela sua abolição. Esse poema foi concluído (1868) 20 anos depois da promulgação da lei Eusébio de Queiros, que proibiu o trafico de escravos, 4 de setembro de 1850. No entanto, a proibição não vingou de todo o que levou castro Alves a se empenhar na denuncia da miséria a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica. Além disso, em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios negreiros completavam a viagem com vida.
Navio Negreiro Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Somos os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um