Natureza e Cultura
Entretanto, podemos identificar algumas tendências prevalecentes nesse debate. E, para tanto, um ponto de partida interessante é a conceituação do termo cultura, compreendido, predominantemente, como o conjunto de elaborações humanas que ultrapassam o círculo imediato da natureza. Dito de outra forma, a cultura envolve os valores morais, os costumes, as normas sociais, os hábitos, as formas de conhecimento, as visões de mundo, enfim, todos os aspectos da vida humana que não estão antecipadamente estabelecidos nos domínios da natureza. Nessa ótica é comum a observação de que, ao realizarmos nossa humanidade na esfera da cultura, afirmamos nossa liberdade diante da natureza.
O helenista Werner Jaeger (1888-1961), no início de seu livro intitulado Paideia – palavra de origem grega que significa o cultivo da humanidade mediante a plena educação –, constata a exclusividade humana na construção de uma realidade sociocultural que se estende e se transforma pelas sucessivas gerações de seres humanos. Com essa afirmação, esse autor destaca a liberdade conferida pela natureza à humanidade, isto é, diferentemente de todos os demais seres vivos, que têm suas vidas ditadas pelos limites naturais, os homens se apropriam conscientemente do mundo na criação da cultura.
Antes dele, porém, diversos intelectuais exploraram essa temática. É o caso do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que sublinha a natureza mista da humanidade, a partir da qual é possível constatar a conciliação entre determinismo e liberdade. Nessa perspectiva, os seres humanos são submetidos à causalidade das leis naturais, possuindo, porém, a racionalidade pela qual se projetam como seres livres em relação à natureza. Como ser empírico, é claro, a