Natascha Kampusch
FUNDAMENTAL
Lara
Stresser
Schmitt
Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto
O CASO NATASCHA KAMPUSCH E A SITUAÇÃO ANTROPOLÓGICA
FUNDAMENTAL
Lara Stresser Schmitt1
Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto2
Resumo
Este artigo pretende discorrer sobre o caso de Natascha Kampusch, seqüestrada aos dez anos de idade por Wolfgang Priklopil, 44 anos, com quem permaneceu durante oito anos. Fazendo uso do aporte teórico da Teoria da Sedução Generalizada (TSG), de Jean
Laplanche, discutimos a idéia de que o trauma sofrido por Natascha Kampusch nesta situação pode ser considerado uma reatualização do traumático na fundação do psiquismo, isto é, da “Situação Antropológica Fundamental”, em que o adulto transmite à criança que cuida mensagens não verbais, verbais e comportamentais carregadas de significações sexuais inconscientes, que seduzem e traumatizam, visto que não são mensagens transparentes, não envolvem apenas o cuidado, são opacas e enigmáticas.
Tal elemento é justamente o trauma, que não consegue ser integrado ao conjunto de representações do sujeito. Inicialmente a mensagem é apenas inscrita, não compreendida. Posteriormente passa a agir como um corpo estranho interno, demandando tradução, mas, no caso do trauma, há a impossibilidade de metabolização.
Se a mensagem é intrometida, ela nunca será traduzida? O que fez Natascha Kampusch para sobreviver psiquicamente? Nossa hipótese é a de que a saída foi a criação de um laço transferencial entre ela e Priklopil. Inicialmente, Priklopil teria agido como intrometedor, sedutor e enigmatizador, no entanto, com o passar dos anos, assumiu o papel de assistente de tradução, num duplo papel, como o adulto que excita, mas também oferece recursos para a criança conter sua excitação. Sendo assim, supomos que
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Psicóloga, especialista em Saúde Mental, Psicopatologia e Psicanálise (PUC-PR), mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade