Narradores do impensável - Resenha do Filme Narradores de Javé
Contar a história de um povo não é impossível. Principalmente quando isso é feito com bom humor e muita energia que somados a maestria de uma cineasta e um elenco de primeira, mesmo sem ser de ponta que desmancha-se na tela como um rio da explanação poética nacional. No segundo longa de sua carreira Eliane Caffé mostra pra que veio, a paulistana que quase sempre foge da cidade grande em busca do interior nos presenteia mais uma vez com o homem comum, que gosta da sua terra e da sua gente.
Homens que vivem no imaginário popular, mas moram nas nossas cidades de gente simples e que de lá, do imaginário, preferem não sair. Figuras como Zaqueu (Nelson Xavier) não fogem a luta e quando o assunto é defender sua cidade de ser inundada pela construção de uma barragem, nem sua rixa com o passado será suficiente para freá-lo da ideia de documentar a história de seu lugar em um dossiê científico unindo-o a todos mais que quiserem vir. Senhoras, senhores, bodegueiros, barbeiros e intelectuários como o escriba Antonio Biá, vivido pelo paraibano José Dumont que nos entregam, sem atravessamentos, a linda e triste história do Vale do Javé, cidade fictícia do sertão baiano, e de sua gente que fugiu de costas para o inimigo para poder bater em retirada.
Em Narradores de javé o drama é aquele de tantos anos: A pobreza seca que castiga o sertão e a falta de alma de quem tira de seu lugar uma gente que nem o possui, mas que cantado como as divisas de sua cidade nos trazem a lembrança de que o nordestino é gente forte que não arreda! Nessa terra, os dramas paralelos falam ao expectador com firmeza. O homem que não tinha mais medo e a família de uma mãe e dois pais agregam-se ao coronel que pode tudo e a disputa por uma linha no livro da salvação num emaranhado de pedidos, causos e contos todos reais e um pouquinho aumentados, e é sob essa ótica que conhecemos a batalha de um povo pelo seu pedaço de lugar esquecido no