Nanook
Flaherty, desde a infância, acompanhava o pai, em expedições pelo Canadá e logo revelou talento para desenhar mapas. Descobre o cinema e se envereda na produção de pequenos filmes. Mas, devido ao caráter inflamável do nitrato, um componente muito comum nos filmes de então, um incêndio consome 35 mil pés de película, incluindo praticamente todo o material de Nanook. Flaherty consegue um patrocínio de US$ 50 mil de uma fábrica de peles francesa e, com esse dinheiro, adquire duas câmeras, um gerador, um laboratório com material para revelação e um projetor para uma nova e polêmica empreitada de Nanook (já tratada nesta coluna na crítica ao filme Santiago, de João Moreira Salles). Estava selada então a função do cinema como documentário para "aproximar o exótico-distante" das culturas urbanas. O filme foi sucesso de bilheteria e projetou mundialmente o nome de Flaherty – tanto que uma colega do curso, de origem tcheca, lembrou que, em seu país, o termo 'nanook' pode ser usado para significar... picolé!. Mas, em termos antropológicos, Nanook não foi o primeiro registro de um contato entre culturas distintas, ou melhor, não foi o primeiro registro audiovisual (já que registros escritos de contatos de culturas distintas existem há séculos). ópicos históricos e exemplos à parte, cabe afinal enumerar algumas características do cinema etnográfico. A que me pareceu mais importante e crucial, porque deve nortear todos os possíveis trabalhos na área, é definir se o filme será produzido sob uma perspectiva investigativa, de exploração ou sob uma perspectiva fílmica, de exibição. No primeiro caso, há uma ênfase no registro, sem maiores preocupações técnicas, pois o material será incorporado a uma pesquisa ou ele é produto de uma pesquisa. Não há um interesse em exibição pública, por exemplo, salvo para alguns pares científicos. Já no