Nada
Conforme visto na introdução a esta dissertação, o interesse pelas manifestações populares por parte de estudiosos remonta a meados do século passado, como parte do movimento romântico. Elas eram consideradas expressão autêntica do povo brasileiro, o gérmen de uma nacionalidade, livre das influências européias. Logo a seguir, movida pelo cientificismo, parte da elite intelectual procurou justificar a constituição da nacionalidade a partir do argumento da miscigenação das três raças. Um aspecto constituía ponto pacífico: no interior, nos sertões do Brasil, estariam conservadas as raízes da cultura brasileira. A busca pela autêntica expressão da nacionalidade continuou com o movimento modernista encabeçado por Mário de Andrade e perpassou a ação governamental para a defesa da soberania nacional. Embora todo o interior brasileiro fosse considerado, as regiões Norte e Nordeste foram privilegiadas para o estudo em razão de acreditar-se que eram livres da influência estrangeira. Ainda hoje é possível detectar essa idéia em discursos que dabatem assuntos de natureza diversa:
Ao contrário do que pensa Rafael Greca e a maioria dos intelectuais populistas, as culturas de Rio e Bahia, em que pese sua importância, tornaram-se reducionistas, ao se fecharem demais para as outras regiões do país ao mesmo tempo em que se abriam em demasia para o mundo (ou para parte do que ele tem de pior), ao ponto de não se saber mais qual a diferença entre Bahia e Caribe, Rio de Janeiro ou Los Angeles. No Nordeste mora o verdadeiro Brasil, que concilia modernidade e tradição, agonia e êxtase, heresia e religiosidade. ( SILVA, José Maria e. Comemorações do descobrimento – o paladar do elitismo e o teorema dos chiqueiros. Artigo publicado no Jornal Opção, semanário da cidade de Goiânia, 2 de maio de 1999. Agradeço ao autor pela gentileza em enviar diretamente a mim o material, por e-mail.)
O artigo em que se insere este trecho é uma crítica à atitude do governo atual, de