Annelise Maria Frank escreveu na folha de rosto de seu diário, em 12 de junho de 1942, dia de seu aniversário de 13 anos: “Espero poder confiar inteiramente em você, como jamais confiei em alguém até hoje, e espero que você venha a ser um grande amigo e um apoio para mim”. No prefácio da 13ª edição de O Diário de Anne Frank, de 1995, o crítico literário Storm Jameson revela que o diário (na verdade um caderno grosso, de capa dura) foi um dos presentes de aniversário da jovem nascida em uma família judia de Frankfurt, Alemanha, em 1929, e imigrada para Amsterdã (Holanda) em 1933, quando ainda era uma garotinha. As palavras que ela registrou na folha de rosto, a título de introdução, continua Jameson, pareciam uma premonição. A princípio, o diário era como o de qualquer adolescente, cheio de ideias e descobertas confusas sobre o mundo, a sexualidade, o primeiro amor – nesse caso, um rapaz de 16 anos, Harry, o vizinho bonitão. Em 6 de julho de 1942, porém, essa realidade cor-de-rosa ganhou cortornos mais cinzentos. Anne Frank, os pais, a irmã Margot (mais velha) e mais quatro judeus de uma família amiga, deixaram suas casas e foram se abrigar no Anexo Secreto (um conjunto de salas escondidas por detrás de um complexo de escritórios no centro de Amsterdã). A medida visava proteger os oitos judeus das investidas da Gestapo, a polícia secreta nazista. Desde o início da vigência do governo de Adolf Hitler na Alemanha, ainda em meados dos anos 30, as famílias judias foram perdendo bens, imóveis, cargos públicos, empregos privados, o direito a cidadania, e sendo conduzidos a cortiços improvisados (guetos) nos subúrbios alemães. Também eram obrigados a usar uma estrela de Davi (o símbolo judaíco) amarela, costurada às roupas. Nenhum alemão podia ser visto ajudando um judeu, caso contrário, tornava-se suspeito e também sofria as mesmas sanções governamentais. Os judeus confinados aos guetos só saiam para os trabalhos forçados. Com a invasão da Polônia, e, na sequência, de