Míriam
Lygia Fagundes Telles
O primeiro romance da autora Lygia Fagundes Telles, publicado em 1954, Ciranda de
Pedra, é um dos mais conhecidos e lembrados dentre as obras da autora. Através de uma narrativa em terceira pessoa, muito próxima da protagonista, conhecemos a personagem principal Virgínia, que enfrenta os inúmeros obstáculos surgidos no caminho da busca do seu espaço na sociedade.
A história começa com a protagonista, ainda criança, vivendo na casa da mãe louca e do suposto tio Daniel. Um lar de poucos recursos financeiros e escassez de atenção, já que todos os cuidados e gastos são voltados para a doença da mãe, Laura. Este cenário entra em contraste, constantemente, com a mansão em que vivem as irmãs mais velhas e o suposto pai, Natércio, a quem a mãe louca abandonou para viver com o tio Daniel:
Que casa! Você precisa ver essa nova casa com um jeito assim bem antigo, lá no fundo de um gramado que não acaba mais. Tem um caramanchão cheio d e plantas e perto do caramanchão uma fonte no meio de uma roda de cinco anõezinhos de pedra, você precisa ver que lindo os anõezinhos de mãos dadas! É bom beber aquela água, tão geladinha! [...] Bruna e Otávia parecem duas princesas. (TELLES, 1998, p.
19)
Virgínia, ainda criança, se deslumbra com a aparente vida perfeita que suas irmãs mais velhas têm. Ela sonha em ter a mesma vida de princesa também, e o único jeito desse sonho se realizar é Laura se curar da loucura e voltar a morar com Natércio na mansão .
Inúmeras vezes a personagem se imagina dentro desse sonho, sendo admirada por todos a sua volta e tendo direito as mesmas regalias que as irmãs:
Viu-se no meio do grupo. Falava desembaraçadamente e todos ouviam, deslumbrados. Conrado podiar tocar piano, mas desta vez não era Otávia quem cantava. “Canta mais, Virgínia!”, pediam. E Frau Herta concordaria: “Uma artista!” O sábado na chácara. Tinha o mesmo chapelão de palha da moça da folhinha e o mesmo vestido, a longa saia