Mídias do Futuro
Mídia faz parte da paisagem cotidiana. Embora a mídia tenha sempre envolvido uma mescla de comunicação centralizada e interpessoal, as práticas midiáticas foram por tanto tempo configuradas como um modelo determinado, o modelo um-para-muitos, que o paradigma da comunicação de massa pareceu automático tanto como estrutura para pesquisa quanto como fato da vida social. O paradigma resume-se no termo inglês “the media” ‒ “a mídia” ‒, algumas vezes tratada de forma “gramaticalmente errada” (como no meu título) como um substantivo singular1; há apenas uma década isso ainda poderia proporcionar um ponto de referência para pesquisa crítica (Silverstone, 1999). Mas algo genérico sobre a mídia está mudando. Em jogo, não está apenas uma relação (o “self” versus a “rede”, como colocou Manuel Castells [1997: 3]), porque atualmente a mídia digital é parte integral da maneira como os seves se apresentam. Uma transformação mais profunda está em curso, uma transformação que desafia a ontologia na qual o paradigma da comunicação de massa foi baseado. Os produtores e consumidores de mídia agora são, muitas vezes, a mesma pessoa; a produção cultural profissional e amadora não está distante, mas sim, sobrepondo-se intimamente, áreas do mesmo vasto espectro. Alguns chegam a conclusões drásticas sobre a obsolescência das instituições de mídia centralizada, sua substituição por novos modelos de comunicação colaborativa (“we-think”, como Charles Leadbeater [2007] a chamou), e até a morte da mídia. A minha abordagem, ao contrário, consiste no reconhecimento dos novos desafios para a legitimação das instituições de mídia – e a base desses desafios dentro de uma mudança real no campo de possibilidades da mídia – para então explorar toda uma gama de tensões transversais que resistem ao colapso das instituições de mídia. Eu faço essa abordagem por meio de desafios que chamei, em outro momento, de “o mito do centro mediado” (Couldry, 2003), argumentando que este mito é,