Mário quintana
“Incomoda quando ninguém se preocupa comigo”
Entrevista a Ney Gastal
Entrevistar o poeta é como um duelo daqueles de filme antigo, em branco e preto, onde o bandido acaba inapelavelmente encurralado. Entrevistar o poeta é como um duelo, onde ele é o mocinho e nós, sem chance, o bandido. Raros são seus momentos de calma. Na semana de seu aniversário sempre há alguém querendo arrancar dele uma ou outra palavra. Por vezes apenas recusa; outras, lança um olhar desolado em torno, dá de ombros e sujeitase; outras, ainda, levanta-se e traz o potencial entrevistador até o armário atrás de minha mesa, onde está colocada uma cópia da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, e aponta o Artigo XII. Apenas isto, e poucos são os que continuam a insistir. Diz o artigo: “Ninguém será sujeito a interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência nem a ataques a sua honra ou reputação. Todo homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques”. Sinto, poeta, mas era preciso que o ‘Caderno” tivesse uma entrevista. E, afinal, alguém que é nada mais nada menos que a identidade secreta do Anjo Malaquias deve ter um pouco de paciência, não ? - O Anjo Malaquias é uma figura mitológica que criei como símbolo da frustração. Portanto, não se trata do seu autor. A esta altura da vida, continua teimando que te deixem em paz, que deixem de lado tua pessoa em função de tua obra. Mas por de trás desta modéstia deve haver uma grande vaidade por tudo que já foi feito. Não é ? - Não se trata de modéstia. É que eu sou muito orgulhoso para ter vaidades – tão próprias dos satisfeitos. Um poeta, mesmo nunca é um auto-satisfeito. Dizem que “os verdadeiros poetas não lêem outros poetas; os verdadeiros poetas lêem os pequenos anúncios dos jornais”. Tu, além disto, vives muito tempo dentro da redação do jornal. Ajuda a poetar ? - Tudo ajuda poetar, tudo atrapalha poetar. Mas, nos momentos de criação, onde quer que se esteja, as