Mário de Andrade - São Paulo é um rosal.
Mário
ndrade:
“São P aulo é um rro osal!” Paulo
Aleilton Fonseca (UEFS)
Deve haver aqui perto uma roseira florindo...
Que harmonia por mim... Que parecença com jardim...
O meu corpo está são... Minha alma foi-se embora...
E me deixou.
Mário de Andrade
Charles Baudelaire acreditava que “para se penetrar na alma de um poeta, temse de procurar aquelas palavras que aparecem mais amiúde em sua obra. A palavra delata qual a sua obsessão.” Ao citar esta frase do poeta francês, Hugo Friedrich
(1978: 107) anota que “a significação de ‘flor’, como equivalente de palavra poética, remonta a uma expressão da retórica antiga para uma figura da linguagem artística, ou seja, a flos orationis, como disserta Cícero, em De oratore III. Por contigüidade, pode-se aduzir que a observação de Baudelaire não se aplica só à palavra em si, mas também às condições do seu emprego, a sua significação poética e ao campo de sentido que processa na obra, ao definir-se como tema recorrente.
Na poesia de Mário de Andrade, as recorrências mais visíveis situam-se em torno dos aspectos expressamente urbanos, que indicam a sua obsessão básica pelo tema da cidade moderna. Entre estas, observa-se também a presença vibrante de uma flor. A rosa. Trata-se de uma imagem recorrente em várias passagens de seus poemas.
A chave inicial para compreender a presença da rosa na lírica de Mário encontra-se na epígrafe do poema “Tristura”, em que o poeta cita em pórtico uma imagem emblemática do poeta francês Stéphane Mallarmé (1842-1898). Trata-se do verso final de um soneto sem título, de 1887: “Une rose dans le ténèbres”. Esse verso de Mallarmé é um gemido final e angustiado do eu lírico, diante do nada existencial que as imagens ilusórias nomeiam, no único período formado pelos tercetos:
LÉGUA &
ME I A : R E V I S T A
DE
LITERATURA
E
DIVERSIDADE CULTURAL,
V.
6,
N O° 4 ,
2 0 08
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O puro recipiente de bebida alguma