Má-Fé De Sartre
Publicado em 12/09/2007 por Victor da Filosofia
O sentido trivial da expressão “má-fé” pode ser, como encontramos nos dicionários da língua portuguesa, algo como intenção dolosa ou falsidade. O Houaiss - que deve mesmo ser o melhor dicionário da língua portuguesa – define-a como “disposição de espírito que inspira e alimenta a intenção maldosa, conscientemente praticada”. Normalmente, dizemos que age de má-fé quem mente, dissimula, conduz-se de maneira hipócrita e esconde segundas intenções por detrás de seus atos. A má-fé é uma propriedade do hipócrita, do canalha, do covarde. É uma espécie de nuance da mentira. É o que poderíamos chamar de cinismo. A expressão, contudo, assume um sentido específico e filosófico na obra do filósofo francês Jean-Paul Sartre.
Sartre (1905-1980) foi um pensador francês que desenvolveu seu pensamento em diversos Sartresaberes. Escreveu filosofia, literatura, teatro. Alistou-se à Resistência Francesa nos tempos da Segunda Guerra Mundial. Filiou-se ao Partido Comunista. Dialogou com o marxismo e a psicanálise. Foi, sobretudo, um defensor da liberdade humana em seu sentido mais radical (é dele a célebre idéia de que somos “condenados à liberdade”, isto é, só não podemos perder a liberdade). Para Sartre, o homem é responsável pelo que se torna, pelo que faz de si mesmo. Não há experiências traumáticas (negando assim a psicanálise), condições econômicas (negando assim o “determinismo” marxista) ou natureza humana (negando definições metafísicas ou científicas) que me obriguem a ser ladrão, assassino ou herói. É apenas a liberdade do próprio sujeito que determina o papel que este assumirá. Assim sendo, um pretexto psicológico, econômico, fisiológico, etc., não será mais do que isto: um pretexto. Uma justificativa vazia, provavelmente decorrente da vergonha por se ter feito de si mesmo algo risível ou desprezível.
No entanto, é possível que o sujeito esteja realmente convencido de que é rancoroso porque foi pobre, ou