Musicalidade na lavagem da catedral de são sebastião: discutindo uma versão de baianidade

Na segunda metade da década de setenta, com o implemento de novos investimentos publicitários, inclusive com a criação e a veiculação interna e externa do slogan “Bahia: Terra da Felicidade”, a baianidade, uma alocução acerca do “etos baiano”, começa a receber maior promoção turística, sobretudo com o novo direcionamento dos incrementos administrativos e midiáticos bem como com a atuação ostensiva de artistas ligados à literatura e à música baianas. Nesse sentido, a Bahia começa a ser demarcada como o lugar do místico, da mestiçagem afro-descendente, da sensualidade, da alegria, da festa, um lugar da preguiça e do turismo.

Muitas elocuções deram aval para que esse estalão identitário pudesse ser assimilado e efetivado pela capital baiana e por alguns sítios do interior do Estado. No entanto, não se pode negar que a música, ou a “axé music”, responsável por ritmar o maior carnaval de rua do Brasil, desempenhou e ainda desempenha papel de proeminência. Das localidades interioranas que assimilaram letra e ritmo da baianidade, merece destaque a cidade de Ilhéus, localizada na “Região Grapiúna” no Sul da Bahia. Ao ser envolvido em estratégias tanto de ordem turística quanto artística, o contexto ilheense sugere uma reflexão sobre a possível influência do poder público, da mídia, de artistas e das “indústrias culturais ” na produção e promoção de manifestações artístico-culturais ilheenses.

Considerando o caso da “Lavagem das Escadarias da Catedral de São Sebastião”, uma manifestação que há cerca de três décadas substituiu a celebração originária realizada pelos estivadores em homenagem ao santo mártir padroeiro, uma questão se impõe de modo contundente: até que ponto pode-se asseverar que o discurso da baianidade, sobretudo a partir da “axé music”, teria, através dos investimentos realizados pelas “indústrias culturais”, promovido um processo de esteticização no repertório musical do ritual de lavagem.

O investimento de esforços em direção ao desvendamento