murilo rubiao
Os contos de Murilo Rubião filiam-se a uma vertente conhecida como realismo fantástico, ou realismo mágico. Trata-se de uma corrente literária interessada em construir narrativas em que acontecimentos inexplicáveis e/ou impossíveis (do ponto de vista lógico ou científico) adentram o universo real (tal qual o conhecemos) sem terem sua existência questionada. Produz-se, assim, um efeito de estranhamento no leitor, que se defronta com cenas absurdas em situações absolutamente cotidianas.
Em Teleco, o Coelhinho, por exemplo, depois de ser abordado por um coelho falante que lhe pede um cigarro, o narrador-personagem decide adotá-lo, e só então descobre que Teleco é um coelho metamórfico, capaz de se transformar em todos os tipos de animais. Já em O Edifício, a empolgação inicial do protagonista, o engenheiro João Gaspar, vai sendo transformada em dúvida, e então em desespero, conforme vai percebendo que a obra que administra (um arranha-céu que já passa de 800 andares) é uma construção que jamais terá fim.
Os narradores
Importante na análise de qualquer narrativa, o narrador é outra peça fundamental na criação da atmosfera dos contos de Murilo Rubião. Identificar não apenas sua posição, se em primeira ou terceira pessoa, mas seus comentários (ou sua ausência) diante dos fatos narrados é indispensável para a compreensão dos contos.
No conto O Pirotécnico Zacarias, o narrador-protagonista demonstra dúvidas sobre a própria condição: "Em verdade morri, o que vem ao encontro da versão dos que creem na minha morte. Por outro lado, também não estou morto, pois faço tudo o que antes fazia e, devo dizer, com mais agrado do que anteriormente".
Em Bárbara, a trajetória da mulher que engorda descontroladamente à medida que seus desejos obsessivos são satisfeitos (primeiro, ela pede o oceano, em seguida, o baobá de 10 metros plantado no pátio do vizinho e, ao final, uma estrela) é narrada pelo marido, que é justamente quem realiza as vontades da