multiterritorialidade
DA DESTERRITORIALIZAÇÃO À MULTITERRITORIALIDADE
Rogério Haesbaert 1
Pretendemos com este trabalho dar continuidade à nossa crítica ao discurso da desterritorialização (especialmente em “O Mito da Desterritorialização”, Haesbaert, 2004) através do aprofundamento do debate sobre a noção anteriormente proposta de multiterritorialidade (Haesbaert, 1997, 2001a, 2002a, 2004). Multiterritorialidade aparece como uma resposta a esse processo identificado por muitos como “desterritorialização”: mais do que a perda ou o desaparecimento dos territórios, propomos discutir a complexidade dos processos de (re)territorialização em que estamos envolvidos, construindo territórios muito mais múltiplos ou, de forma mais adequada, tornando muito mais complexa nossa multiterritorialidade.
Assim, a desterritorialização seria uma espécie de “mito” (Haesbaert, 1994, 2001b,
2004), incapaz de reconhecer o caráter imanente da (multi)territorialização na vida dos indivíduos e dos grupos sociais. Assim, afirmamos que, “mais do que a desterritorialização desenraizadora, manifesta-se um processo de reterritorialização espacialmente descontínuo e extremamente
complexo”.
(Haesbaert,
1994:214)
Estes
processos
de
(multi)territorialização precisam ser compreendidos especialmente pelo potencial de perspectivas políticas inovadoras que eles implicam.
1. Território(s)
Para falar em multiterritorialidade precisamos, em primeiro lugar, esclarecer o que entendemos por território e por territorialidade. Desde a origem, o território nasce com uma dupla conotação, material e simbólica, pois etimologicamente aparece tão próximo de terraterritorium quanto de terreo-territor (terror, aterrorizar), ou seja, tem a ver com dominação
(jurídico-política) da terra e com a inspiração do terror, do medo – especialmente para aqueles que, com esta dominação, ficam alijados da terra, ou no “territorium” são