Multiplicação de neurônios
1999
O milagre da multiplicação dos neurônios
Depois de um século pensando o contrário, os cientistas descobriram que novos neurônios nascem também em adultos. Agora sonham com a cura de lesões na espinha, derrames, Parkinson e Alzheimer por Denis Russo Burgierman
Célula difícil taí. É a estrela do organismo, complicada que só ela. Tem centenas de ligações a solicitando ao mesmo tempo. Carrega na bolsa substâncias químicas cujos sutis efeitos os cientistas ainda não entendem bem. Como sempre acontece, essa condição de prima-dona vem acompanhada de um péssimo temperamento. Ao ser afetada por qualquer mal, sua recuperação vira um drama. Por fim, como toda celebridade, ela é insubstituível.
Era. Em junho, uma equipe da Universidade Rockefeller, em Nova York, anunciou que outra célula, chamada astrócito, consegue gerar novos neurônios em pelo menos uma região do cérebro. Melhor ainda: os astrócitos são muito abundantes no sistema nervoso. Ou seja, o potencial de restauração é gigantesco (veja na página 42). A descoberta vem no rastro de uma outra, tão surpreendente quanto. Em novembro do ano passado, um sueco e um americano tornaram realidade o sonho de dez em cada dez neurologistas. Eles concluíram que neurônios de adultos se regeneram, sim. Agora, pesquisadores do mundo todo estão tentando domar as indóceis estrelas e convencê-las a voltar ao trabalho depois de uma falta de ar ou um tropeção qualquer. Como você vai ver nas próximas páginas, os resultados são promissores.
Não pode?
Este neurônio é diferente de todos os outros 10 bilhões. No sistema nervoso, ao contrário dos demais tecidos, cada um é um, com forma, função e arsenal químico únicos. Imagine a dificuldade que seria repor essa célula, caso ela morra. Não é à toa que nunca se imaginou que o cérebro conseguisse se regenerar. Pode, sim!
Os pesquisadores descobriram que células nervosas brotam, sim, no cérebro de gente grande. Pelo menos em uma região, cuja atribuição é formar memórias.