Muito além da gramática
A dificuldade de propor ao grande público o debate sobre a gramática reside no fato de as pessoas acreditarem que as questões linguísticas não lhes dizem respeito, "não têm nada a ver" com suas atividades profissionais, com suas relações familiares, com suas interações nos diferentes grupos sociais em que atuam. Questões linguísticas, dizem, "são questões para professores de línguas ou para gramáticos. Não nos pertencem".
Por isso é urgente desfazer alguns dos equívocos que se criaram em torno da gramática, a fim de que se possa enxergar a língua com uma visão científica, livre de suposições infundadas, livre da ingenuidade dos "achismos" fáceis, que, embora sedimentados historicamente, não deixam de ser individualmente irrelevantes e redutores e, socialmente, discriminatórios, inconsistentes e excludentes.
Embala esse livro o sonho positivo de oferecer às pessoas acesso a uma compreensão mais ampla, mais científica e mais relevante do que sejam os usos da linguagem. Lamentavelmente, a escola não tem propiciado a descoberta dessa amplitude e dessa relevância. E a linguagem, as questões linguísticas despertam apenas muito pouco interesse e quase nenhum fascínio.
A quem se dirige este livro? Aos professores de línguas? Aos professores de português? A toda pessoa que se preocupa (ou se inquieta) com questões de gramática e de seu ensino na escola? É. É para esse público em geral. Seja professor ou não; seja um profissional que lida diretamente com a linguagem (os que escrevem, que leem, que fazem da palavra seu instrumento de trabalho) ou não; seja estudante ou não. Não importa. É livro escrito para os pais, para os filhos, para os professores, para qualquer um que queira entender um pouco mais das descobertas da linguística. Toda pessoa pode parar um pouco para pensar, com olhos de amplidão, nas coisas da