Mudanças

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A cultura religiosa dominante na América Latina projeta-se na cultura política e econômica da região, criando uma relação de afinidade eletiva entre uma tradição cristã providencialista, uma cultura política pragmática-resignada, e os valores econômicos que justificam e legitimam o modelo neoliberal imperante.

O “providencialismo” é um conceito teológico que exprime uma visão da história dos indivíduos e das sociedades como processos governados e controlados por Deus. A antropologia, a psicologia social e a educação popular têm mostrado o peso de um modelo providencialista meticuloso na região. A obra do psicólogo social Ignacio Martín-Baró, por exemplo, mostra a tendência do catolicismo providencialista dominante para transformar a docilidade em uma virtude religiosa. No campo da pedagogia e da educação popular, a obra de Paulo Freire revelou como a consciência oprimida dos latino-americanos reside em um mundo mágico no qual as vítimas da exploração interpretam seu próprio sofrimento como um desígnio divino. A teologia da libertação também visualizou o providencialismo e o combateu, desmascarando a ordem estabelecida – supostamente por vontade de Deus – como verdadeira desordem, pecado social que devemos combater.

Os estudos sobre o “catolicismo popular”, majoritário na América Latina, também revelaram peso dominante da ideia de um Deus providencial que intervém na história por meio de anjos, santos e forças sobrenaturais para premiar ou castigar a humanidade. Finalmente, o pentecostalismo e o movimento carismático reforçaram o peso do providencialismo meticuloso latino-americano.

A visão providencialista de Deus induz os homens e as mulheres da região a aceitar que seus destinos individuais e sociais são determinados por forças alheias à sua vontade. Tal ponto de vista contribuiu para gerar uma cultura política que se pode denominar “pragmática-resignada”.

O pragmatismo resignado constitui uma forma de perceber a realidade social como uma condição

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