Mudanças da língua portuguesa
Joaquim Maria Botelho
Embora parentes bem próximas, irmãs quase univitelinas, a língua portuguesa e a língua espanhola estão em estágios diferentes. O espanhol é uma língua mais bem resolvida em vários aspectos, e conseguiu incorporar marcas de oralidade interessantes, o que seguramente faz com que a língua tenha mais atratividade. Caso típico é a autorização que os falantes do espanhol têm de começar frases com pronomes oblíquos. Eles dizem “me gusta”, “te quiero”, sem remorsos. No caso do português, a razão para a proibição é formal, normativa, e já poderia ter caído em desuso. Mas é para promover essas reformas que existe a Academia Brasileira de Letras. E os acadêmicos trabalham intensamente. Evanildo Bechara tem comentado comigo a respeito das modificações que devem ser implantadas, a partir de 2008 (quase quarenta anos depois da última reforma ortográfica, realizada em 1971). Mas a questão não é só técnica; é política, também. Todas as alterações devem ser aceitas e ratificadas pelas academias de letras de no mínimo três dos países integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, órgão criado, em 1996, pelo presidente José Sarney. O Brasil ratificou em 2004, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe em 2006. Faltam os outros países-membros: Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor Leste.
São pequenas modificações, que não devem atingir nem 2% dos 228.000 verbetes constantes do mais recente dicionário brasileiro. Mas terá o condão de simplificar a língua. O que, em si, já um ganho significativo. A seguir, comentários sobre algumas dessas modificações.
Para começar, acaba o trema. Não vai ser mais preciso escrever “cinqüenta”, mas cinquenta. A explicação é que o trema é mais uma referência fonética do que propriamente de escritura.
Também na direção da simplificação, foram eliminados alguns casos de uso do hífen para composição de prefixos. São muitas as exceções em casos de prefixação, pela razão de