Mudança
Certamente, em algum dia do passado, uma mulher (por que não?) qualquer viu um pássaro batendo as asas e o invejou. E essa mulher fantasiou em sua cama de noite até um suor desesperado umedecer seus lençóis. Angustiada, tal mulher dividiu sua fantasia com uma amiga, que a amparou em sua ideia insana. Cúmplices então, elas confabularam teorias surreais e teoremas matemáticos.
E a fantasia se transformou em realismo fantástico (perdoem-me os fãs desta escola literária pela apropriação do termo), onde dividiam suas realidades visionárias. Quando finalmente, abriram uma folha incólume sobre uma mesa e desenharam, borrando-a de fragmentos retirados diretamente de suas imaginações, a coisa toda passou a se chamar projeto.
A partir daí nada preciso explicar, porque do projeto surge a tentativa na prática, e da tentativa surge o erro, que culmina propositadamente ou não no acerto, quase sempre. E claro, sabe-se que a humanidade conseguiu imitar o pássaro, cada vez melhor, e voando mais alto e melhor que ele. Hoje o pássaro voa empoleirado lá dentro da barriga do avião.
Mas na barriga do avião também voa gente. Gente como você. Gente como eu. E cada um pensa o que quer sobre voar. Tem gente que tem medo de cair. Tem gente que tem medo terrorista. Eu tinha medo de morrer sem voar.
Vinte e dois anos de idade. Eu nunca tinha viajado de avião. Nem de helicóptero, disco voador, balão, asa delta. Só um teleférico. Mas para quem quer voar, teleférico é rastejar. Tudo bem. A angústia daquela mulher lá do segundo parágrafo me sufocava, então, comprei o bilhete para uma ponte aérea mesmo. Minha namorada iria comigo.
Confesso que quando o dia chegou, meu estômago embrulhou e eu pensei “e se eu morrer de medo