Movimentos atuais e apropriação por partidos políticos.
Estes movimentos são raramente programáticos, exceto quando seu foco é uma questão clara e simples quanto derrubar regimes ditatoriais. Os movimentos apresentam múltiplas demandas, todas vindas de cidadãos ávidos para decidir as condições de suas vidas.
No entanto, por serem múltiplas demandas, com motivações ilimitadas, eles não podem formalizar qualquer organização ou líder porque seu consenso, sua união, depende de deliberação e protesto, e não de preencher um programa em torno de objetivos específicos. Trata-se de sua força, pela sua abertura, e sua fraqueza, já que não se pode atingir algo quando os objetivos a serem atingidos estão indefinidos. Além disso, não podem ser cooptados por partidos políticos, ainda que estes possam lucrar com a mudança de mentalidade proposta pelo movimento na opinião pública.
Desta forma, são movimentos sociais que pretendem mudar os valores da sociedade, e eles podem ser movimentos de opinião pública, com consequências eleitorais. Eles pretendem transformar o Estado, mas não se apossar do Estado. Eles expressam sentimentos e agitam debates, mas não criam partidos ou apóiam governos, entretanto podem se tornar alvo de escolhas para marketing político partidário.
Por fim, estes movimentos são políticos em um sentido fundamental, em especial quando eles propõem e praticam a democracia deliberativa, direta, baseada em uma democracia em rede. Eles projetam uma nova utopia: a democracia em rede, baseada em comunidades locais e comunidades virtuais em interação.
Estes movimentos em rede estão propondo uma nova utopia no coração da cultura de uma sociedade em rede: a autonomia do sujeito frente às instituições da sociedade. Quando estas falham ao gerenciar crises estruturais, a mudança toma corpo fora do sistema mediante uma transformação das relações de poder que começa na mente das pessoas e se desenvolve na forma de redes construídas pelos projetos de novos atores