Morte e sociedade em Memórias póstumas de Brás Cubas e O falecido Mattia Pascal

3243 palavras 13 páginas
Introdução

Machado de Assis e Luigi Pirandello, por meio de seus protagonistas – um defunto-autor e um “morto vivo”, ou melhor, “vivo morto” –, nos apresentam a temática da morte, que sempre acompanhou a evolução dos povos e que até hoje é motivo de vários estudos que se dedicam a discuti-la e problematizá-la a fim de resolver os mistérios que a envolvem.
Este estudo tem por finalidade apresentar como essa temática foi abordada em Memórias póstumas de Brás Cubas e em O falecido Mattia Pascal. É por meio da ironia e do humor que os dois autores nos fazem adentrar as reflexões do além-túmulo, mostrando como a sociedade utiliza essa questão para se mascarar.

1. “Matamos o tempo; o tempo nos enterra”

Memórias póstumas de Brás Cubas é a obra que, em 1881, inaugura o Realismo no Brasil. Nesse romance, Machado utiliza sua fina ironia, tão característica de sua obra, para denunciar as máscaras sociais das elites brasileiras. Nessa trajetória, o egoísmo, a conveniência e o esvaecimento das virtudes morais se apresentam como os verdadeiros valores da sociedade. E é com pessimismo e com um toque de melancolia que nos é exposto o destino ao qual todos estamos fadados: a morte.
Brás Cubas, um típico caractere da sociedade burguesa, que viveu toda a sua vida em boas condições financeiras, decide narrar suas memórias póstumas. Esse fato nos revela que o narrador, por não pertencer mais ao mundo dos vivos, sente-se isento de possíveis repreensões e responsabilidade por aquilo que narra, e também justifica o modo digressivo e não linear da narrativa, pois ele não tem pressa nenhuma em fazer seus relatos, visto que não tem mais vínculos temporais e de conveniência social. Esse modo de narrar vai contra o convencional, pois ao invés de começar a narrativa pelo seu nascimento, decide começar pela sua morte.
Logo na dedicatória podemos ter uma amostra da ironia do autor:

AO VERME
QUE
PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
DO MEU CADÁVER
DEDICO,
COMO SAUDOSA LEMBRANÇA,

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