Morte em Veneza
“A realidade só nos distrai e degrada”
Repleto de digressões, sonhos, e cortes, o longa-metragem nos proporciona duas horas de muita confusão mental. Apesar dos cansativos devaneios, ele conta com uma história inquietante e encantadora. Inquietante pela obsessão, de certa forma assustadora, do protagonista.
Encantadora, afinal, quem nunca se encantou com a beleza de alguém? Mas, no geral, não perseguimos ninguém. No geral...
A obsessão de Gustav pela beleza de Tadzio, ao meu ver, é uma concretização da busca de Gustav pela beleza na arte, mais especificamente, na música. Sendo assim, os diálogos filosóficos entre
Alfred e Gustav confirmam isso, e esses são passíveis de reflexão. Eles discutem o conceito de arte e os modos de como deveríamos vê-la.
Sobre as características pertinentes ao filme, ele se passa em Veneza em um contexto o qual a cólera asiática a atinge. O sucesso da polícia em esconder a doença dos turistas nos remete a alienação daquela sociedade endinheirada, e preocupada essencialmente com as tradições.
Talvez, um fruto dessa alienação seja o afastamento das pessoas, bem perceptível no filme.
A cidade é mostrada, com sua arquitetura que leva traços do clássico e do romano, em estado deplorável e decadente. Uma Veneza em ruínas.
Destarte, podemos dizer que Morte em Veneza deve ser assistido com a mente aberta para entender as relações entre o contexto, a sociedade e os diálogos apresentados. É interessante como uma história de uma incessante busca da beleza carrega consigo profundas reflexões sobre a sociedade de maneira tão sutil.