Moniz Bandeira e o governo João Goulart
Introdução
O fato histórico possui uma essência material e temporal íntegra que, como todos sabemos por sua obviedade, uma vez realizado como acontecimento, não pode mais ser alterado. Conseqüentemente, numa síntese evidente e grosseira, podemos afirmar que a história é uma seqüência de unidades factuais conclusas em si. Porém, são unidades factuais enquanto são tópicos históricos. Mas essas unidades históricas não são eventos estanques, acabados em si mesmos. Ou seja: transcendem a sua singularidade, o seu espaço e o seu tempo, intermediando-se, para o passado e para o futuro, como unidades seqüenciais ativas, com outros acontecimentos, num sistema politicamente perceptível pela movimentação das ações humanas interligadas pela racionalidade social. O marxismo interpreta esse movimento como materialismo histórico, pelas relações dialéticas dos agentes sociais nos seus conflitos e no seu desenvolvimento sobre a materialidade real do seu espaço e do seu tempo.
Por esse movimento, os fatos históricos, embora conclusos na sua pontualidade singular, interligando-se no tempo e no espaço, fazem com que o processo civilizatório seja um sistema que atua sobre si mesmo. Ou seja, um sistema fechado de energia processual. Assim, pois – o que todo historiador conhece – cada fato histórico é um elo entre outros fatos históricos que se prolongam nos eventos subseqüentes, dos quais se tornam a causa. Por isso, imbricando-se no tempo e na materialidade social, a história é dialética.
O livro de Moniz Bandeira sobre o governo de João Goulart, [1] ao trazer-nos os fatos históricos de então – pertencentes que são ao mesmo circuito social que os circunscreve – ele se torna contemporâneo aos homens que começam a escrever a história brasileira do século XXI. Os conflitos sociais de então, não resolvidos nos seus fundamentos, ressurgem sob novas características e num novo estágio, conduzidos pelo movimento ondular da própria história.
Moniz