Modernismo no Brasil
Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Um, dois, três lampiões, acende e continuaOutros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.
Triste ironia atroz que o senso humano irrita: —
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.
Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua
Analise: Na poesia Jorge de Lima descreve com algumas palavras antigas como um homem acende os lampiões na noite, e percebe - se que ironicamente alguém o critica, dizendo que está sem energia, por isso sai iluminando a cidade.
Biografia do Autor: Jorge Mateus de Lima foi um poeta, médico, político, ensaísta, tradutor e pintor nascido em Alagoas no dia 23 de abril de 1893. Começou a escrever poesia parnasiana, aprofundou-se na forma do soneto e depois sobre a temática nativa, tudo sem deixar de lado sua catolicidade.
Não Sei Quantas Almas Tenho (Fernando Pessoa)
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo.
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”Deus sabe, porque o escreveu.
Analise: No poema o poeta reflete a cerca de si próprio, tentando responder a questão “Quem sou Eu”. Mas outros temas ou ideias nele se revelam poesia