Modern Times, de Charlie Chaplin
A história centra-se na vida urbana nos Estados Unidos de inícios dos anos 30, época em que os efeitos nefastos da Grande Depressão se faziam sentir de forma devastadora na sociedade norte-americana. Chaplin interpreta aqui um operário de uma linha de montagem que é levado à loucura pela frenética monotonia do seu trabalho e entra numa série de aventuras que o levam a conhecer uma bonita jovem (encarnada por uma soberba Paulette Goddard) com a qual foge da lei e tenta sobreviver a esses tempos.
Para lá das implicações políticas e sociológicas subjacentes à temática da obra (que só por si dariam teses de mestrado inteiras) há cinema vivo em Tempos Modernos. O virtuosismo do seu realizador - já patente antes em City Lights ou The Gold Rush - volta a evidenciar-se num filme repleto de sequências marcantes onde cada imagem demonstra simbolismo ao mesmo tempo que revela inovação na forma (destaque para a fotografia sublime de Ira H. Morgan e Roland Totheroh). As conclusões que retiramos da história são sérias, mas Chaplin expõe-nas com uma comicidade brilhante pela qual pauta a sua pantomímica interpretação (genial desde os momentos na fábrica ao episódio do espectáculo). No meio da luta da personagem também há espaço para olhar o amor através de uma cumplicidade que se afasta da frugalidade numa espécie de representação da luta das personagens contra a maré da burguesia de forma carinhosa.
Num texto de 1954 para a revista Arts, André Bazin termina a sua análise à obra com uma observação que ilustra a sua importância: face à imposição de novos estilos cómicos com o surgimento do