Mitos E Defini Oes
E NA CONTEMPORANEIDADE
Marcus Reis Pinheiro*
A presente comunicação contém três partes. Em primeiro lugar irá apresentar uma noção geral do conceito de mito, especialmente aquela noção formulada pela escola ritualista. Em seguida irá apresentar os modos principais por onde um mito era transmitido na Grécia Clássica para então, a partir de trechos da obra de Platão, apresentar uma interpretação da função dos mitos nos diálogos.
É bem difícil definir com suficiente precisão o termo ‘mito’. A grande maioria de suas características e de suas funções em um texto ou em uma sociedade se mistura com as características de outros estilos ou gêneros literários (se é que podemos dizer que ‘mito’ é um estilo literário). Para um estudo frutífero dos mitos é necessário certa flexibilidade nos seus conceitos primários. Tentar circunscrever esses conceitos primários de
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Doutorando da PUC-Rio.
Boletim do CPA, Campinas, nº 15, jan./jun. 2003
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Marcus Reis Pinheiro forma fechada e cabal talvez seja improdutivo. G. S. Kirk tem razão quando diz o seguinte:
“O que eu tentei chamar atenção sobre algumas dessas áreas modernas de estudos não é, com certeza, um erro de observação, mas sim a aplicação persistente e enganosa de uma falsa preconcepção, a saber, que ‘mito’ é uma categoria fechada com as mesmas características em culturas diferentes. Uma vez que se veja que mito como um conceito geral é completamente vago, que ele implica em si mesmo não mais que uma estória tradicional, então ficará claro que suas restrições a tipos definidos de contos, ‘sagrados’ ou aqueles associados aos rituais, são pouco seguros e desvirtuantes
[...] ‘Teorias Gerais’ de mito não são coisas simples.1
Podemos dizer que mitos são uma sub-classe da classe dos contos.
A restrição que Kirk tenta é bastante interessante, a saber, que os mitos são contos tradicionais. Walter Burkert tenta uma definição em sua obra
Structure and History in Greek Mythology and Ritual