MITO, METAFÍSICA, CIÊNCIA E VERDADE
(Do Livro “Construindo o saber”, Papirus Editora, 1994, p. 29 a 38)
Heitor Matallo Jr. *
Existem muitas formas de conhecimento que partilharam e ainda partilham, juntamente com o conhecimento científico do papel de realizar a explicação da realidade. São as formas artísticas, religiosas e mitológicas de conceber o mundo. Durante muitos séculos, essas várias formas de conhecimento se mesclaram e, em maior ou menor grau, se impuseram como formas dominantes na organização do pensamento.
Foi somente a partir do Renascimento que uma nova "visão de mundo começou a rivalizar com as velhas concepções mitológicas, religiosas e metafísicas, oferecendo - pouco a pouco - novas referências para a organização do pensamento.
Dissemos anteriormente que os gregos fizeram uma distinção entre o saber mítico e o racional, embora não tivessem - na prática - conseguido operar esta diferença e criar um conhecimento científico independente. Esta tarefa foi executada, a partir do Renascimento, pelos chamados fundadores da ciência moderna: Copérnico, Descartes, Galileu e Newton Embora não tivessem conseguido se libertar inteiramente da metafísica, cada um deles deu um passo decisivo no processo de formação da ciência moderna, questionando velhos dogmas e fornecendo uma nova direção e sentido às investigações.
Todo este processo de formação da ciência moderna, que podemos caracterizar como sendo de desantropomorfização da natureza, coincidiu historicamente com o desenvolvimento do capitalismo e com a expansão ultramarina. Progressivamente, as transformações sociais econômicas e políticas repercutiram na "cultura geral" da época e foram produzindo novos padrões de referência. Enquanto na Idade Média a religião e as escrituras eram os paradigmas de pensamento, na Idade Moderna será a ciência que ocupará o lugar de honra na cultura.
As mudanças foram tão notáveis e as realizações da ciência e tecnologia tão incríveis que passou, inclusive, a