migrantes
O realismo e originalidade das cenas traduz a forma capitalista de produção extensiva, ao estilo das “plantations” coloniais. A diferença histórica é o patamar tecnológico e o suporte legal das relações trabalhistas aplicadas, hoje, aos meios de produção. O cumprimento mínimo das exigências legais da CLT atrelado à máxima jornada física do trabalhador expõe o paradoxo da crueldade institucionalizada vivido pelo trabalhador brasileiro, escravo moderno na divisão do trabalho.
Quanto às entrevistas, o que nos impressionou, foi a naturalidade que a população do Nordeste brasileiro aceita e convive com aquele quadro social. A pujança dos empreendimentos econômicos do Centro-Sul, no caso a cana de açúcar, citadas como eldorado em algumas falas, de trabalhadores pouco ou nada qualificados, medem o valor, para eles, daquele trabalho temporário em relação às condições de pobreza em que vivem no Nordeste.
A exploração, a formação da cadeia da mão de obra, o barracão moderno (venda de produtos de primeira necessidade dentro do ônibus), salários in natura, a consecução do objeto de desejo, da meta pessoal, da aventura coletiva, transforma o personagem “Dom Quixote” na ida para o Centro-Sul, defendendo a família, a honra de trabalhador, em Sancho Pança, na volta, submisso ao ideal desvairado do capitalismo, convicto do cumprimento da missão, ansioso em receber “louros” na volta ao torrão.
O Açúcar (Ferreira Gullar)
O branco açúcar que adoçará meu café
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. Mas este açúcar
Não foi feito por