Meus trabalhos
Autor: Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo
Assunto: Transformação do Capitalismo Contemporâneo
Publicado pela Folha de São Paulo em 09/08/98
Convidado pelos editores da Revista do Seade, "São Paulo em Perspectiva'', para escrever sobre as transformações econômicas e sociais que vêm assolando a humanidade neste último quartel de século, tive a ousadia de fazer uma revisão crítica das poucas idéias que até aqui sustentei sobre o assunto.
Diante da complexidade do tema não é preciso dizer, descobri que as tais idéias, além de escassas, revelaram-se mesquinhas. Decidi, mesmo assim, reapresentar algumas delas, neste espaço que a Folha me concede. O estímulo a essa empreitada veio de um pronunciamento do senhor presidente da República, por ocasião do anúncio das medidas contra o desemprego.
Naquela oportunidade, o presidente Fernando Henrique declarou estar "virando uma página da era Vargas". A arenga presidencial referia-se, com certeza, ao passo dado na direção da maior flexibilização do mercado de trabalho e ao progressivo abandono das práticas corporativas, centralizadoras e autoritárias da legislação trabalhista brasileira. Os liberais nativos, à esquerda e à direita, não perdem a oportunidade para girar a manivela do realejo, tocando incessantemente a canção intitulada: A CLT é cópia da Carta del Lavoro. Constatado o vício de origem, a palavra de ordem, nesses tempos de globalização e de império da democracia, é "destruir o infame". Toneladas de tinta foram e continuam sendo derramadas sobre outras tantas de papel para exaltar a tal de globalização, a maior integração das economias, os incontroláveis processos de automação e de informatização, a terceirização e a redução do número de assalariados, o fim do trabalho e o poder disciplinador dos mercados financeiros. A repetição destes motes parece tão sinistra quanto o choro das carpideiras, pelo menos para a grande maioria dos pretendentes a ingressar no clube dos ricos ou das sociedades