Meus documentos
Eu nunca tive um nome a qual me prender, me fixei a um que nunca fora meu. Tudo o que presenciei não foram propriamente com meus olhos, simplesmente estive ali, e observei o que estava para ser observado. Minha memória, assim como minha vida, nunca foi propriamente privilegiada, mas me lembro dos acontecimentos chaves que poderão ligar os pontos na minha efêmera passagem. Assim começo minha história, de um modo nada diferente do que outros irmãos do aço que tive ao longo desta curta jornada.
Pode parecer loucura, mas eu ainda me lembro da noite em que nasci. O frio como um escudeiro carrancudo, forçando passagem por entre as pequenas casas do vilarejo. Soprava forte e limpo em um silvo longo, cortante como uma espada. O seu manto branco dominava e cobria completamente o chão manchado pela temporária derrota, um dos piores invernos que jamais presenciei. As pessoas diziam que era uma ótima época para ter sido criado, principalmente devido às inúmeras batalhas culminando em vastos reinos em guerra e da terra congelada com o vento na chegada do crepúsculo.
Numa época onde os meninos se transformam em homens tal quais seus primeiros dentes de leite atingiam o chão. Onde fui preparado, toda a minha infância, para ser afiado e gélido como a terra onde cresci. Garotos que ainda sequer conheciam o toque quente de uma mulher, jamais voltavam para o alcance do abraço de suas mães ou familiares. Ao morrer em batalha era lhes concedido a honra da Passagem, eram queimados com seus demais irmãos de metal a fim de se encontrarem com seus antepassados. E assim fui criado, sua obra-prima, com um único objetivo de derramar o sangue dos inimigos, cortá-los e furá-los, sendo mera ferramenta contra quem me apontassem os meus senhores.
Meu pai, nunca deu atenção a nenhum de seus filhos. Eram meras figuras decorativas. Dados ao exercito ainda jovens, sem nunca pestanejar, sentindo-se orgulhosos de tal feito. Por algum motivo comigo não foi