metodo experimental
Perante uma série de fenômenos, isto é, de sensações — visto que, em última análise, a elas se reduz tudo quanto percepcionamos e que se nos afigura existir fora de nós —, o espírito humano, na constituição da ciência, passa necessariamente por três operações sucessivas.
Em primeiro lugar, o espírito observa, isto é, concentra a atenção sobre as suas sensações, e deste modo desenvolve uma certa atividade, em vez de permanecer no estado passivo em que, a princípio, se encontrava em relação a elas. Um selvagem esconde-se quando troveja; ao invés, um sábio concentra-se do melhor modo possível no discernimento das caraterísticas do ruído que ouve e nas formas do clarão que vê. Para tornar fecunda a observação é necessário fazê-la ordenada e metodicamente; e o melhor processo para alcançar tal fim é o uso da classificação, que reúne os seres ou os fatos semelhantes, os distribui por grupos, os permite reencontrar facilmente sem os confundir e, portanto, empresta à observação a estabilidade necessária para servir de ponto de partida a novas investigações.
Em segundo lugar, é necessário formular uma hipótese: é um ato de imaginação que consiste em supor uma certa relação que se nos afigure verosímil entre os fatos observados. É necessário, dizia Descartes, «supor a existência de ordem mesmo entre objetos que não decorrem naturalmente uns dos outros»1. Com efeito, a observação pode evidenciar-nos perfeitamente o que se passou em todos. As leis dos fenômenos não estão ao alcance dos sentidos; primeiramente é necessário adivinhá-las; a natureza, como a Esfinge, só por este preço revela os seus segredos. Foi deste modo que Kepler, por razões completamente metafísicas, imaginou que os astros deviam obedecer, nos seus movimentos, a certas leis que hoje têm o seu nome, e somente mais tarde verificou, pelo exame dos fatos, o que, de princípio, era somente uma concepção da sua imaginação.