mestre

Aqueles dois daniela castilho
Fui assistir à peça “Aqueles dois”, estreada pela companhia de teatro mineira “luna lunera” em uma adaptação do conto homônimo do poeta gaúcho Caio Fernando Abreu. Manifesto aqui que fiquei por algum tempo emudecida com a sagacidade e a mediocridade denunciada por Caio, o poeta maldito, que caiu em minhas mãos na década de 80, pelo então livro recém lançado “morangos mofados”. Como sugere o subtítulo do conto “aqueles dois”, é uma história de aparente mediocridade e repressão.
A peça estreou em 2007 e desde então percorre o Brasil (circuito Petrobras Cultural) afora em uma espécie de denúncia coletiva em relação à vida que levamos. O grupo mineiro é um espetáculo à parte com interpretações maduras e domínio corporal perfeito, frutos de uma trajetória de pesquisa experimental, embora consistente, influenciada pelos trabalhos do inenarrável Chico Pelúcio, do excêntrico grupo Galpão.
Falar de Caio é simplesmente muito difícil, ou melhor, complexo. Despi-lo em sua melancolia e loucura é reencontrar-me diante de uma memória longínqua e por demais oblíqua. Confesso apaixonadamente minha identificação com o(a)s maldito(a)s, pois, em todo(a)s há um elemento em comum: visceralidade. A vida para Caio era um maravilhoso e contínuo “suicídio”, como quem se despedaça por inteiro. Não havia meio termo ou ponderações.
O conto “aqueles dois” é insuportavelmente dramático e incômodo. O cenário cinzento e vazio de uma ‘repartição’ inóspita (que poderia ser qualquer outro ambiente com as mesmas características) denuncia a vida vazia e inerte do trabalho corriqueiro, breve e doentio. O trabalho alienado aqui é o componente que cinde de forma abrupta e simbólica as vidas humanas de mulheres e homens. E é neste ambiente que encontramos os personagens Raul e Saul que no decorrer da trama, como que numa espécie de rebeldia consentida, constroem suas cumplicidades, seja por meio do silêncio, ou