Mestre escola e a professora
Adriana Marcondes Machado[1]
OBS - Texto no prelo a ser publicado em livro coordenado por Álvaro Madeiro, pediatra de Fortaleza. Este livro reunirá cartas escritas a jovens médicos, por profissionais de diferentes áreas.
Caro médico recém-formado. Apresentarei duas cenas para iniciar a conversa:
Rita, uma mulher de 32 anos, está indo à consulta médica. Carrega consigo grande expectativa, faz tempo que sofre de males que a deixam com muitas dores. Esperou meses por essa consulta. Na sala de espera senta-se numa cadeira e aguarda. Quando chamada, fala de suas dores à médica que a examina e lhe prescreve um remédio no receituário. A mulher pega o papel, sai da consulta, mas não vai à farmácia: joga a receita no lixo.
Um homem de 40 anos está com o filho de 15 internado. Espera o médico para saber o diagnóstico. Muita coisa depende desse diagnóstico, pois, conforme o resultado do exame, haverá ou não a possibilidade de cura. O médico, ao chegar, lhe dá a notícia. O caso é grave. O pai chora, o médico o consola. Depois desse caso o médico vai cuidar de mais outros ao longo do dia. Ao final do trabalho, volta para casa. Encontra a família, janta, relaxa o corpo diante da TV. À noite sofre de insônia; isso tem sido freqüente. Já há alguns meses o médico toma remédio para dormir.
Como explicar esses acontecimentos?
Sou psicóloga. Esses anos de contato com as maneiras de sentir, viver e adoecer, foram me permitindo obter maior clareza sobre o que é e como se produz a subjetividade. Durante minha formação dominou-me um tipo de pensamento diferente do que defendo atualmente. Eu acreditava que, por haver uma maneira de ser e sentir, que parece ser o “jeito da pessoa”, poderíamos falar de um núcleo, uma essência, um inconsciente individual, que justificaria as características, os valores e as atitudes de alguém. Esse jeito típico de alguém seria constituído por muitos fatores: físicos, culturais, relacionais, pessoais. Assim, por exemplo,