Mestrando
BRESCIANI, Maria Stella. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza, 10ª ed., São Paulo: Brasiliense, 2004.
Se pudermos afirmar que um título “cai como uma luva” sobre um texto, Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza é realmente um espetáculo narrativo, informativo e analítico que parte do testemunho vívido da literatura novecentista do calibre de Balzac, Hugo, Dickens e de teóricos como Michelet, Chevalier, S. Jones, entre outros, discorrendo sobre o contexto dos primeiros esforços em contabilizar o saldo da Revolução Industrial, mais por uma questão de autodefesa política da burguesia, menos por questões sociais. Nesse momento, segundo a autora, “a multidão dos pobres por um momento dispensa todos os olhares recolhidos nas páginas deste livro, alcança a praça pública e proclama o direito dos citadinos à sua cidade (...)”. Nesse “espetáculo da pobreza”, e descortinado um “primeiro ato”, “a rua e seus personagens”, descaracterizados de sua humanidade: maquiados pela fuligem das chaminés, a esqualidez “alimentada” pela fome e a solitude social acompanhada de nenhuma cidadania. Essa multidão é vista pela burguesia com “fascínio e terror”, como um “poder invisível” (talvez, em oposição à “mão invisível” de Smith), sempre assemelhada ao “caos” desde a Idade Antiga.
O “segundo ato”, contexto das primeiras crises do capitalismo, a “descida ao inferno” que não arde com fogo, mas é frio, insalubre, fétido e escuro nas oficinas, casebres e porões, em que os trabalhadores degradados e abandonados, têm uma “nova” existência como “resíduo” da indústria, reajustados à produção (“sweting sistem”), tornados uma “colmeia popular” assemelhada a um outro “caos”, o hobbesiano, no qual o trabalhador deixa de raciocinar, volta a um estado animal-instintivo: sentir fome e sentir cansaço antes, durante e depois de cada turno de trabalho, sem direito a distinção entre ser trabalhador ou ser vagabundo.
Num “último ato”, não menos palpitante,