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“No céu, empalideciam as últimas estrelas, quando chegamos ao aeroporto”.
Para deleite da literatura, o mercado editorial contemporâneo tem posto o grande público em contato com os mais diversos textos de escritores brasileiros consagrados. A consagração é pré-requisito para a publicação póstuma, senão de tudo, de quase tudo que o autor escreveu em vida.
Muitas vezes, a intenção inicial do literato nem fora a conversão daquele manuscrito, ou daquele texto jornalístico, em livro. Ainda assim, nossas editoras têm por estratagema atual valer-se do prestígio acumulado por um poeta ou romancista para pôr à baila as suas mais inusitadas produções literárias.
Esse é o caso da contista paulistana Lygia Fagundes Telles, cuja obra vem sendo recentemente reeditada na íntegra. Em seu bojo, escritos esparsos, datados no tempo, reencontrados furtivamente no recanto de uma página de jornal, vêm a lume agora sob a forma de livros e esmeradas coletâneas.
Foi assim que me deparei com um livro de crônicas, até então inédito, de Lygia. A obra reúne textos encomendados à futura autora de A estrutura da bolha de sabãopelo jornal Última Hora, no ano de 1960. O convite para a série fora feito diretamente pelo editor-chefe do periódico, Samuel Wainer, conhecido pivô de polêmicas políticas na história da imprensa brasileira, jornalista cuja família judaica emigrara da longínqua Bessarábia, na primeira década do século XX.
Não se trata de um apanhado de crônicas qualquer. Passaporte para a China(2011) é livro de crônicas, sim, mas de crônicas de viagem. A obra vem escrita no mais tradicional modo cronístico do gênero: o diário de bordo. Compilam-se quase três dezenas de crônicas. Estas, assinadas dia a dia, voo a voo, escala a escala, perfazem, afinal, um mês de viagem rumo ao Extremo Oriente.
A República Popular da China então completava 11 anos de existência e uma missão de escritores e artistas do Brasil fora convidada a comparecer às solenidades