MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR
Nascido em São Paulo, em 1890, de família rica (fazendeiros de café), José Oswald de Sousa Andrade durante muitos anos foi um bom vivant. Cursou Direito na faculdade do Largo de São Francisco e ingressou na carreira jornalística. Viajou desde cedo para a Europa, onde entrou em contato com movimentos de vanguarda. Em 1917, conheceu Mário de Andrade e, juntos, criaram o chamado grupo dos cinco, formado pelos Andrade mais Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Menotti Del Picchia. O grupo manteve intensa amizade no início dos anos 20 e foi responsável por influências mútuas que marcaram a obra desses artistas.
Em 1924, publicou o Manifesto da Poesia Pau-Brasil e, em 1928, o Manifesto Antropófago, duas das mais fecundas propostas literárias da fase heroica de nosso Modernismo. Em 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e a crise do café, Oswald, praticamente falido, aderiu ao Partido Comunista Brasileiro e recolheu material para a peça de teatro O rei da vela (expressão usada para designar os agiotas da zona bancária paulistana), publicada em 1937.
Em 1945, Oswald afastou-se da militância política e tornou-se um sério e grave acadêmico da Universidade de São Paulo, onde defendeu teses (A Arcádia e a Inconfidência, A crise da filosofia messiânica, A marcha das utopias), e lecionou como professor livre-docente. Sua morte ocorreu em 1954. A obra de Oswald de Andrade talvez seja a única, dos modernistas da primeira fase, a reunir todas as características que marcaram a produção literária do período. Ele escreveu poesias, romance, teatro, crítica e, em todos os gêneros, deixou marcada sua vocação para transgredir, para quebrar as expectativas, para criar polêmicas.
Na Semana de Arte Moderna, Oswald de Andrade leu trechos do romance Alma, que mais tarde faria parte da trilogia Os condenados. Nesse romance ainda há fortes resquícios passadistas, apesar de já se notarem alguns elementos inovadores.