Memórias póstumas de brás cubas: fatores de textualidade
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Fatores de Textualidade
O prólogo intitulado “Ao leitor” estabelece a relação entre o narrador e o leitor, enquanto o primeiro capítulo “Óbito do autor” situa o texto de Memórias Póstumas de Brás Cubas numa determinada tradição literária.
A citação dos literatos Stendhal, Sterne (A vida e as opiniões do cavalheiro Tristam Shandy) e Xavier de Maistre (Viagem ao redor do meu quarto) faz referência à “tradição humorística inglesa do séc. XVIII” (Salomão, pg. 484) e indica o afastamento de Memórias Póstumas do estilo sentimental do Romantismo e do modelo que começava a vigorar: o Naturalismo.
Nessas obras os narradores narram em primeira pessoa, mas não se mostram dotados de completa autoridade, pois insinuam que o que narram advém de percepções pessoais o que não é inteiramente verdadeiro, isto quando não nos alertam de que suas narrativas podem ser facciosas ou fraudulentas.
A adoção do procedimento narrativo em primeiro plano e a consequente mediação do modo de vida de Brás Cubas asseguram ao romance a coesão e a verossimelhança, trazendo à cena um elenco de personagens que em certo plano resumem a sociedade do período imperial.
A produção textual de Stendhal mostra sua relação com o público, visto como uma massa pouco culta, ávida por literatura de consumo. Essa relação crítica e irônica aparece no prólogo em trechos como: “...ao passo que a gente frívola não achará nele seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.”
Memórias Póstumas de Brás Cubas se distancia do romance realista por diversos fatores tais como a ausência de qualquer distância enobrecedora do personagem e de suas ações, da mistura do sério e do cômico, a absoluta liberdade textual, a representação literária de estados psíquicos e o uso constante de gêneros intercalados.
A estranheza da