Memórias do Cárcere - Graciliano Ramos
RESOLVO-ME a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos.
Nunca possuíram uma censura a respeito de obras de arte, e por isso não me guardava notas!
No começo de 1936, trabalhei na Instituição Pública de Alagoas. Lá consegui me manter conservado por muito tempo, sendo elogiado assim por todos e invejado também. Por motivos de picuinha e inveja acabei sendo demitido, no começo fiquei transtornado, mas já havia estado em situações piores e agora tinha comigo alguns projetos literários, indecisos.
O essencial era que saísse de Alagoas, e assim o fiz, viajei para o interior para terminar ou até mesmo fazer uns acertos em meu romance que já vinha a meses escrevendo, o difícil era ficar em paz, com minha mulher e meus filhos na mesma casa, ainda mais pelo fato de naquela situação ter apenas na carteira um conto e duzentos.
No dia seguinte, Luccarini veio a minha casa, entrou sem pedir licença, cochichou rapidamente que eu iria ser preso e que se quisesse liberdade, devia urgentemente me afastar de casa e rapidamente saiu.
Entrei na sala de jantar, abri uma garrafa de aguardente, sentei-me à mesa e bebi alguns cálices.
Naquele momento a ideia da prisão dava certo prazer, via ali um princípio de liberdade. Além disso, estava curioso para saber do que era acusado. Mas, ao mesmo tempo pensei que a cadeia era o único lugar que me proporcionaria o mínimo de tranquilidade necessária para corrigir o livro. Pelo fim da tarde um tenente veio me buscar, me despedi de todos e entrei em um automóvel, um grande carro oficial.
Rodamos em silêncio, atravessamos o bairro de Jaraguá e a cidade sem trocar uma sequer palavra. Chegando ao batalhão, fui direcionado a um quarto vazio, que em seguinte me tiraram o livro. Estava inquieto, mal conseguia dormir e comer se cochilei algum tempo foi pouco.
Logo pela manha seguinte viajei novamente, me arrumei e peguei meus pertences.
Na saída encontrei Tavares, que agora era investigador e tinha