Memória e identidade social
Memória e identidade social
No caso das diversas pesquisas de história oral, que utilizam entrevistas, sobretudo entrevistas de história de vida, é obvio que o que se recolhe são memórias individuais, ou, se for o caso de entrevistas de grupo, memorias mais coletivas, e o problema ai é saber como interpretar esse material (p. 200);
A priori, a memoria parece ser um fenômeno individual, algo relativamente íntimo, próprio da pessoa. Mas Maurice Halsbwachs, nos anos 20-30, já havia sublinhado que a memoria deve ser entendida também, ou sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes (p.201);
Que são, portanto, os elementos constitutivos das memoria, individual ou coletiva¿ em primeiro lugar, são os acontecimentos vividos pessoalmente. Em segundo lugar, são os acontecimentos que eu chamaria de “vividos por tabela”, ou seja, acontecimentos vividos pelo grupo ou pela coletividade à qual a pessoa se sente pertencer. São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo, que, no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou não (p. 201);
É perfeitamente possível que, por meio da socialização politica, ou da socialização histórica, ocorra um fenômeno de projeção ou de identificação com determinado passado, tão forte que podemos falar numa memória quase herdada (p.201);
Além desses acontecimentos, a memoria é constituída por pessoas, personagens. Aqui também podemos aplicar o mesmo esquema, falar de personagens realmente encontradas no decorrer da vida, de personagens frequentadas por tabela, indiretamente, mas que, por assim dizer, se transformaram quase que em conhecidas, e ainda de personagens que não pertenceram necessariamente ao espaço-tempo da pessoa