Memória, história e sujeito
I NTRODUÇÃO
PARA EDUARDO GALEANO (1991), a memória é o melhor porto de partida para navegantes com desejo de vento e profundidade. De fato, na busca de construção da identidade, os sujeitos individuais e sociais mergulham na profundidade de suas histórias, em uma dinâmica que pode apresentar um caráter espontâneo ou direcionado. Considerando-se a evocação do passado como substrato da memória, pode-se deduzir que, em sua relação com a História, a memória constitui-se como forma de preservação e retenção do tempo, salvando-o do esquecimento e da perda. Portanto, História e memória, por meio de uma inter-relação dinâmica, são suportes das identidades individuais e coletivas. Quando se emprega a metodologia da História Oral, um projeto previamente elaborado por historiadores orienta o processo de rememorar e relembrar sujeitos históricos, ou mesmo de testemunhas da história vivida por uma coletividade. Desta forma, os depoimentos coletados tendem a demonstrar que a memória pode ser identificada como processo de construção e reconstrução de lembranças nas condições do tempo presente. Em decorrência, o ato de relembrar insere-se nas possibilidades múltiplas de elaboração das representações e de reafirmação das identidades construídas na dinâmica da história. Portanto, a memória passa a se constituir como fundamento da identidade, referindo-se aos comportamentos e mentalidades coletivas, uma vez que o relembrar individual – especialmente aquele orientado por uma perspectiva histórica – relaciona-se à inserção social e histórica de cada depoente.
* Este texto foi apresentado na Mesa- redonda “História Oral e as tramas da subjetividade” realizada no III Encontro Regional Sudeste de História Oral, Mariana, 12 a 14 de maio de 1999. ** Professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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R E D O N D A
HISTÓRIA ORAL , 3,
substratos da identidade*
2000, p. 109-16
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