Memorial do Convento_romance transgressor
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Memorial do Convento – um romance transgressorNuma entrevista ao jornal O Jornal, em Janeiro de 1983, Saramago considerase um homem “tanto ao fluxo histórico e com um certo respeito pelas coisas elementares que são o tempo, o sol, a terra e as pessoas que andam nela”, numa atitude entre a escrita, a história e a filosofia que caracteriza o seu pensamento.
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Como nos diz Maria Alzira Seixo em A Palavra do Romance: “(…) o que de menos se pode acusar a obra de José Saramago é de que ela seja “passadista”, pois nela justamente tem o passado uma função, diríamos “brechtiana”, de crítica ao presente, e por isso é formada de romances donde a contemporaneidade como preocupação e como temática nunca anda ausente. Aliás ele consegue, de modo ímpar na nossa actual ficção, que o seu discurso romanesco seja atravessado pela História, produzindo um tipo de linguagem onde o passado objectual se contamina pelo presente crítico e perspectivante, utilizando já deste modo um processo de autonímia pela sinalização textual que pratica no seu discurso romanesco (…)”
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Saramago estabelece uma curiosa relação entre o passado e o presente constituindo um exemplo de metaficção historiográfica, num exercício inovador de escrita do “romance histórico”.
A subversão na escrita deste novo romance histórico não parece muito visível na elaborada reconstituição que o autor institui nas páginas de Memorial do Convento. À vista desarmada, o escritor embrenha-se com perfeição e minúcia na recuperação fidedigna de quadros sociais, rica em detalhe e visivelmente natural, à qual não é estranha a atitude barroca na linguagem, utilizada como ponte imagética.
A diferenciação relativamente à tradição do romance histórico é mais nítida no estatuto do narrador e nas funções das personagens. Quanto ao primeiro aspecto, notamos a existência de um narrador que acompanha a acção, comenta e critica, em omnisciência, que usa o aforismo ou a profecia levando o leitor a incorporar-se no